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Sem opção de estacionamento na área central de Brasília, motoristas apelam para os flanelinhas na capital do País


Amor e ódio: conheça os flanelinhas do DF que ficaram amigos e até namoraram os donos dos carros





Chico Monteiro, do R7
Em Brasília, muitos flanelinhas ficam com as chaves dos donos dos carros e recebem por mês pelo serviçoChico Monteiro/R7













Sem a cultura de pagar para estacionar o carro e com pouco oferta de estacionamentos privados, os brasilienses se acostumaram a deixar diariamente os seus carros em estacionamentos públicos nas áreas comerciais e perto de prédios públicos em Brasília. Mas para isso, precisam conviver com os flanelinhas e, quase sempre, apelam à ajuda deles para encontrar uma vaga para estacioanar. A ajuda claro, tem um preço, que pode ser pago no dia ou como mensalidade, já que os flanelinhas são praticamente fixos, trabalham todos os dias na mesma região.
Sem o auxílio dos flanelinhas é praticamente impossível achar uma vaga nesses estacionamentos. A não ser que o motorista chegue ao local de madrugada. Muitos flanelinhas ficam com as chaves dos clientes para manobrar os carros durante o dia. Até porque muitos deles são estacioanados em locais de passagem.
Esse relacionamento diário tão próximo entre brasilienses e flanelinhas gera conflitos - quem não quer pagar pode ter problemas- mas também há casos de laços de amizade e até namoro entre os donos dos carros e os cuidadores dos veículos.
A maioria dos “Verdinhos”, como são conhecidos por causa do colete que usam após o cadastro junto ao governo, começa a trabalhar às 6h e só termina o expediente por volta das 19h. O almoço, geralmente uma marmita, é feito no próprio local. Apesar da longa jornada, a remuneração deles chega perto dos R$ 1.500 mensais, mais do dobro do salário mínimo, já que por dia eles ganham entre R$ 40 e R$ 70. A maior parte da renda, no entanto, vem de lavagens dos carros que custam em média R$ 20, se for simples, e R$ 30 quando o carro também é encerado.
Na maioria dos estacionamentos públicos o espaço é dividido entre os flanelinhas, que vigiam os carros que ficam nas vagas de dentro do seu 'setor'. Essa organização, segundo João (nome fictício), de 42 anos, garante a harmonia entre os autônomos.

— O clima aqui é sempre de paz. Às vezes tem briga de flanelinha, mas depois ficam todos amigos para sempre, conta sorrindo.

João trabalha há 19 anos como flanelinha. Começou aos 14, levado por um tio. Ele diz que já vigiou carros em diversos pontos de Brasília, na área central da cidade e na Asa Norte. O primeiro estacionamento em que trabalhou foi o do edifício comercial Venâncio 2000. Hoje com 33 anos, diz que é uma profissão economicamente instável.

—Um dia a vaca é gorda, no outro é magra. A coisa é bruta.

Com tantos anos trabalhando como flanelinha, João diz que já conquistou a confiança dos clientes, que segundo ele, costumam ser educados e tratá-lo bem. Em mais de uma vez, ele chegou a sair para beber com os “patrões”. Um dia no final do expediente, o dono de um jipe Pajero disse a ele, “sou rico, mas sou humilde”, e o levou para comer churrasquinho na Rodoviária do Plano Piloto.

— No final, ele ainda me deu R$ 30 reais.

João também se orgulha em contar a história do namoro vivido com uma de suas clientes, que trabalhava próximo ao estacionamento de um restaurante na Asa Norte em que ele atuava. O primeiro beijo ocorreu em um encontro marcado por eles em um bar da W3 Norte. O relacionamento durou um mês.

— Aí ela mudou de trabalho, perdemos o contato e não nos vimos mais. Depois disso ainda continuei apaixonado por um tempo.

Outros casos de amizade com os “patrões” são a pelada que jogou com um cliente e o tratamento dentário que ganhou de outro.

— Um cliente já me levou ao dentista. Eu quis pagar com lavagens do carro, mas ele não aceitou. Tem gente boa no mundo.

O que João mais gosta na profissão é poder manobrar e, às vezes, dirigir os carros estacionados. Ele diz que o automóvel mais luxuoso que já dirigiu foi um modelo da marca Mercedes-Benz.

— Uma vez fui até Águas Lindas [município de Goiás que fica no Entorno do DF] no carro de um cliente. Meu sonho é dirigir um Camaro.

Vicente (nome fictício), de 42 anos, também é flanelinha e trabalha há dez anos em um estacionamento do Setor de Rádio e TV Sul, na área central de Brasília. O “Verdinho” não é tão bom de histórias da profissão quanto o colega João, mas diz que já presenciou muita coisa ao longo dessa década trabalhando em estacionamentos.

— Uma vez, nós vimos um malandro tentando roubar um carro aqui. Corremos atrás, prendemos e ainda demos uma surra nele.

Ele também diz que a relação com os clientes é de confiança e, por isso, são bem tratados.

A corretora de empréstimos pessoais, Dinar Miranda, de 46 anos, é uma das clientes que confia no trabalho dos flanelinhas e diz que nunca teve problema com os profissionais.

— Sinto mais segurança, a gente tem pelo menos a quem perguntar se algo acontecer. Semana passada deixei o carro em um local deserto e acabaram roubando o som.

Cadastro 

De acordo com a Sedest-DF (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda), 1.650 flanelinhas estão cadastrados no órgão e são autorizados a exercer a profissão no Distrito Federal. Para tirar o registro, os profissionais faziam um curso de oito horas e ao final recebem um crachá e um colete verde do GDF (Governo do Distrito Federal). A fiscalização do trabalho dos flanelinhas cabe à Seops (Secretaria de Ordem Pública e Social).

O cadastro, no entanto, feito pela secretaria está suspenso desde 2011, quando a Procuradoria Geral do DF encontrou vícios de inconstitucionalidade na lei que prevê o registro dos flanelinhas. Hoje o cadastramento dos profissionais é de responsabilidade da Superintendência Regional do Trabalho, mas não há mais curso.




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