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Números em descompasso

  O crescimento do número de carros no Distrito Federal impressiona e passa longe do aumento da quantidade de habilitados. Segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran), na comparação entre 2004 e 2011, o número de motoristas passou de 1.049.669 para 1.367.032, um aumento de 30,2%. Já o número de veículos passou, no mesmo período, de 775.112 para 1.317.721 – ou seja, cresceu 70%.
 
   A combinação, atrelada à descrença da população no transporte público, resulta nos rotineiros e estressantes congestionamentos, que já não são comuns apenas em horários de pico.

    O diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, avalia que o aumento do poder aquisitivo exerce grande influência no aumento da demanda por veículos. Para ele, as facilidades de crédito que o mercado oferece tornam isso possível. “O carro virou um objeto de consumo de fácil acesso, a partir do simples desejo de as pessoas terem o próprio veículo”, diz. Dessa forma, quem antes tinha carteira, mas não poderia comprar um carro, agora pode. Consumo No ponto de vista de Bezerra, o aumento da frota se dá por uma série de motivos, entre eles, o costume das famílias – entre a classe mais favorecida – de presentear os filhos com um carro ao atingirem a maioridade. Essa situação, segundo ele, se destaca em Brasília. Outro motivo são os cidadãos que vislumbram possibilidades de melhoria de vida a partir de empregos onde a Carteira de Habilitação é instrumento de trabalho. Um clássico exemplo são os motoboys. “Esses são os perfis dos motoristas e os motivos pelos quais indicamos o aumento de habilitados e carros”, conta.

  Exame prático do Detran reprova 34%

   Outro fator que aponta esse descompasso é o alto índice de reprovação nos exames para obter a Carteira de Nacional de Habilitação (CNH). Estudo da Secretaria de Segurança aponta que, no primeiro semestre deste ano, 34% dos candidatos reprovaram na avaliação prática, e 31% na teórica. O especialista em trânsito e transporte urbano da Universidade de Brasília (UnB) Artur Moraes comenta que tamanha aquisição de carros prejudica a cidade, uma vez que não há estrutura para um número tão elevado de veículos. “Quem toma as decisões para melhorar a situação é quem está dentro do carro, e não do lado de fora enxergando o problema”, dispara.

  Transporte ruim

 O programador de sistemas Leonardo dos Reis possui carro e moto, mas opta por se deslocar de carro por achar mais seguro e confortável. Mas reclama dos congestionamentos pela carência no transporte público. “Tiraram as faixas de aceleração para instalar as exclusivas para ônibus. Não há coletivos suficientes para a demanda, e enxugaram as vias para os carros transitarem. O resultado é uma baita confusão. Ter um automóvel em Brasília não é opção, e sim necessidade”, considera.

  Ponto de vista 

O professor Paulo Cesar Marques da Silva, especialista em trânsito, explica que é preciso investir no uso de transporte público para desafogar o congestionamento. “O aumento da frota de veículos acompanha o desenvolvimento da população. O grande problema é o uso intenso do carro pelos brasilienses, que resulta em um completo caos nas vias.


 Camila Maxi
camila.maxi@jornaldebrasilia.com.br
http://www.jornaldebrasilia.com.br/site/noticia.php?id=435063

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